• 20 de novembro de 2024

Sete em cada 10 pessoas negras já sofreram preconceito no Brasil, diz pesquisa

Estudo, realizado entre os dias 4 e 13 de novembro, mostra que episódios embaraçosos podem impedir a liberdade da maior parcela da população

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Uma pesquisa, desenvolvida pelo Instituto Locomotiva, aponta que sete, em cada 10 pessoas pretas já passaram por algum tipo de constrangimento por discriminação racial ou preconceito no Brasil. Os sentimentos foram vividos em diversas situações cotidianas e são admitidos, inclusive, por brancos.

Conforme a pesquisa, a expectativa de experimentar episódios embaraçosos pode impedir a liberdade de circulação e o bem-estar de parcela majoritária dos brasileiros. O levantamento foi realizado entre os dias 4 e 13 de novembro.

Nesta quarta-feira (20), o Dia de Zumbi e da Consciência Negra será, pela primeira vez, feriado cívico nacional.

70% dos negros sofrem preconceito no Brasil, diz estudo

Os negros, que somam pretos e pardos, representam 55,5% da população brasileira – 112,7 milhões de pessoas em um universo 212,6 milhões. De acordo com o Censo 2022, realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 20,6 milhões (10,2%) se autodeclaram “pretos” e 92,1 milhões (45,3%), “pardos”.

O levantamento do Instituto Locomotiva revela que 39% das pessoas negras declararam que não correm para pegar transporte coletivo com medo de serem interpeladas. Também por causa de algum temor, 36% dos negros já deixaram de pedir informações à polícia nas ruas.

O constrangimento pode ser também frequente no comércio: 46% das pessoas negras deixaram de entrar em lojas de marca para evitar embaraços. O mesmo aconteceu com 36% que não pediram ajuda a vendedores ou atendentes, com 32% que preferiram não ir a agências bancárias e com 31% que deixaram de ir a supermercados, em razão do elevado risco de preconceito no Brasil.

Negros, que somam pretos e pardos, representam 55,5% da população brasileira
Negros, que somam pretos e pardos, representam 55,5% da população brasileira – Foto: Joshua Mcknight/Pexels

Saúde mental

Tais situações podem causar desgaste emocional e psicológico: 73% dos negros entrevistados na pesquisa afirmaram que cenas vivenciadas de preconceitos e discriminação afetam a saúde mental.

Do total de pessoas entrevistadas, 68% afirmaram conhecer alguém que já sofreu constrangimento por ser negro. Entre os brancos, 36% admitem a possibilidade de terem sido preconceituosas contra negros, ainda que sem intenção.

Para o presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles, os dados apurados indicam “a necessidade urgente de políticas públicas e iniciativas sociais que ofereçam suporte emocional e psicológico adequado, além de medidas concretas para combater o racismo em suas diversas formas”.

Em nota, Meirelles diz que os números mostram de forma explícita que a desigualdade racial é uma realidade percebida por praticamente todos os brasileiros. “Essa constatação reforça a urgência de políticas públicas e ações efetivas para romper as barreiras estruturais que perpetuam essas desigualdades e limitam as oportunidades para milhões de pessoas negras no Brasil.”

A pesquisa sobre preconceito no Brasil foi realizada na primeira quinzena deste mês, tem representatividade nacional e colheu opiniões de 1.185 pessoas com 18 anos ou mais, que responderam diretamente a um questionário digital. A margem de erro é de 2,8 pontos percentuais.

No Brasil, racismo é considerado, por lei, um crime inafiançável e imprescritível
No Brasil, racismo é considerado, por lei, um crime inafiançável e imprescritível – Foto: Reprodução/ ND

Racismo é crime

De acordo com a Lei nº 7.716/1989, racismo é crime no Brasil. A lei batizada com o nome do seu autor, Lei Caó, em referência ao deputado Carlos Alberto Caó de Oliveira (PDT-BA), que morreu em 2018. A lei regulamenta trecho da Constituição Federal que tornou o racismo inafiançável e imprescritível.

A Lei nº 14.532, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em janeiro de 2023, aumenta a pena para a injúria relacionada a raça, cor, etnia ou procedência nacional. Com a norma, quem proferir ofensas que desrespeitem alguém, seu decoro, sua honra, seus bens ou sua vida poderá ser punido com reclusão de 2 a 5 anos. A pena poderá ser dobrada se o crime for cometido por duas ou mais pessoas. Antes, a pena era de 1 a 3 anos.

As vítimas de racismo devem registrar boletim de ocorrência na Polícia Civil. É importante tomar nota da situação, citar testemunhas que também possam identificar o agressor. Em caso de agressão física, a vítima precisa fazer exame de corpo de delito logo após a denúncia e não deve limpar os machucados, nem trocar de roupa – essas evidências podem servir como provas da agressão.

*Com informações da Agência Brasil.

Fonte: ND Mais

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