• 23 de julho de 2025

Vereador a advogados de SC: quem são os presos suspeitos de fraudes milionárias contra idosos

O esquema fraudulento é investigado na Operação Entre Lobos, deflagrada pelo Gaeco; prisões foram cumpridas em Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Alagoas, Ceará e Bahia

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Operação “Entre Lobos” cumpre mandados em investigação de fraudes milionárias contra idosos. – Foto: Gaeco/ND

Um vereador e seis advogados estão entre os 13 presos na Operação Entre Lobos, deflagrada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas) na terça-feira (22). A investigação mira um esquema de fraudes milionárias contra idosos.

A operação foi deflagrada em cidades de Santa Catarina, Ceará, Bahia, Rio Grande do Sul e Alagoas. Alguns dos suspeitos presos estão ligados a atividades jurídicas.

A operação desmantela um esquema de fraudes bancárias contra idosos, aposentados e pessoas vulneráveis no Brasil.

Suspeitos presos em Santa Catarina

Em Santa Catarina foram presas sete pessoas em diferentes regiões do estado. Veja abaixo:

Chapecó

  • Sócio-administrador da Ativa Precatórios, João Paulo Ferronato (prisão preventiva);
  • Advogado Pablo Augusto Urqueta Gomez, com registro na subseção da OAB de Palmitos (prisão preventiva).

Xanxerê e Xaxim

  • Em Xanxerê, a advogada Gabriele Juli Gandolfi, da OAB local (prisão temporária);
  • Já em Xaxim, o advogado e atual vereador do município, Uilian Cavalheiro, ligado à subseção da OAB de Xaxim (prisão preventiva).

Itapiranga, Pinhalzinho e Irineópolis

  • Em Pinhalzinho, foi presa Ilete Maria Rodrigues de Farias (prisão temporária);
  • Em Itapiranga, a polícia prendeu Jacinta Maria Nyland (prisão temporária);
  • Já em Irineópolis, foi presa Mirian Kelli Klodzinski (prisão temporária).

Objetivo da operação é desarticular um esquema de fraudes milionárias. – Foto: Gaeco/NDObjetivo da operação é desarticular um esquema de fraudes milionárias. – Foto: Gaeco/ND

Prisões em outros estados

Rio Grande do Sul

  • Foi preso na cidade de Planalto, Leonel Paludo (prisão temporária).

ND Mais não teve acesso à suposta atuação dos citados acima no esquema e nem detalhes sobre suas atuações pessoais.

Ceará

  • Cientista em Inteligência Jurídica Aplicada, Osvaldo Janeri Filho (prisão preventiva);
  • Advogada Laliane Correia de Arruda, inscrita no conselho seccional do Ceará (prisão preventiva);
  • Advogada Thais de Mendonça Angeloni, inscrita no conselho seccional do Ceará (prisão preventiva).

Bahia

  • Advogado Julio Manuel Urqueta Gomez Júnior, om registro ativo na OAB em Chapecó (prisão preventiva);
  • Advogada Cassiane Rigo, também vinculada à subseção chapecoense (prisão preventiva).

Operação “Entre Lobos” cumpre mandados em investigação de fraudes milionárias contra idosos. – Foto: Gaeco/NDOperação “Entre Lobos” cumpre mandados em investigação de fraudes milionárias contra idosos. – Foto: Gaeco/ND

ND Mais tentou contato com o escritório de advocacia onde atuavam os advogados Pablo Augusto Urqueta Gomez, Julio Manuel Urqueta Gomes Júnior e Cassiane Rigo. As tentativas foram feitas por telefone e mensagens durante a manhã desta quarta-feira (23), mas não houve retorno até a publicação desta reportagem.

Também buscamos a defesa do vereador Uilian Cavalheiro, de Xaxim, mas não conseguimos contato com o responsável. O escritório onde ele atua informou que não é alvo de investigação por parte do Gaeco nem de qualquer outro órgão.

“Seguimos com todas as nossas atividades jurídicas em pleno funcionamento, com o compromisso de sempre: responsabilidade, seriedade e respeito aos nossos clientes. Nosso time segue atuando com dedicação para garantir o andamento regular dos processos e a qualidade dos serviços prestados”, declarou o escritório em nota.

Tentamos ainda contato com Osvaldo Janeri Filho e Thais de Mendonça Angeloni, por telefone e mensagem, mas também não obtivemos retorno até a publicação da matéria.

Não foi possível localizar os contatos das defesas de João Paulo Ferronato, Gabrieli Juli Gandolfi, Ilete Maria Rodrigues da Farias, Jacinta Maria Nyland, Mirian Kellu Klodzinsky, Leonel Paludo e Laliani Correia de Arruda.

O espaço segue aberto para a manifestação de todos os citados.

O que diz a Câmara de Vereadores de Xaxim?

A Câmara Municipal de Vereadores de Xaxim informou que não emitirá posicionamento sobre o assunto tendo em vista que não há qualquer vinculação com o mandato legislativo.

“Por fim, informamos que, utilizando de suas prerrogativas institucionais, o vereador Uilian Cavalheiro solicitou licença desta Casa”, disse o Legislativo em nota.

O que diz a OAB?

A OAB/SC informo, em nota, que está acompanhando o caso desde que foi comunicada pela autoridade policial para acompanhar as diligências. A instituição acompanhou as buscas, apreensões e prisões, que exigiam a sua participação.

Neste momento, a OAB/SC diz que segue monitorando os desdobramentos da operação e aguarda os relatórios para avaliação pelo setor de Ética, que irá analisar se há necessidade de medidas disciplinares, como eventual suspensão do exercício profissional dos advogados envolvidos.

“Destacamos o trabalho coordenado pela nossa Diretoria de Defesa de Prerrogativas e sua equipe, que desde o início tem atuado com total diligência no acompanhamento do caso junto aos advogados envolvidos, conforme previsão legal”, disse a Ordem.

A OAB/SC destaca que lamenta profundamente qualquer situação que envolva advogados em fatos dessa natureza, mas reforça que permanece atenta, firme e atuante em defesa da legalidade e da ética profissional.

Da mesma forma, a OAB de Chapecó informou, por meio de seu presidente, o advogado Guilherme de Oliveira Matos, que está acompanhando a situação e aguarda a conclusão das investigações para, posteriormente, se for o caso, vai instaurar um procedimento administrativo disciplinar.

dinheiro era retirado de idosos em fraudes milionáriasOperação “Entre Lobos” cumpre mandados em investigação sobre estelionato contra idosos. – Foto: Gaeco/ND

Como o esquema de fraudes milionárias contra idosos foi descoberto?

O esquema de fraudes milionárias foi descoberto quando vítimas procuraram a Promotoria de Justiça de Modelo, no Oeste de Santa Catarina, para relatar os prejuízos sofridos.

A partir daí, o Gaeco identificou dois escritórios de advocacia com nomes de fachada, mais de 200 vítimas e mais de R$ 30 milhões bloqueados pela Justiça.

Do que eles são suspeitos?

Conforme o coordenador estadual do Gaeco, Wilson Paulo Mendonça Neto, os presos são suspeitos de envolvimento em uma organização criminosa que operava um esquema interestadual de estelionato contra pessoas idosas com fraudes milionárias.

Além de desarticular o esquema, o Gaeco busca punir os responsáveis e ressarcir as vítimas afetadas pelo golpe.

Mendonça também detalhou a operação, mencionando que os criminosos tinham ramificações em pelo menos quatro estados, além de Santa Catarina, onde aplicavam as fraudes milionárias.

A organização atua desde o final de 2022, e o golpe começava quando os captadores buscavam as vítimas em casa, oferecendo um serviço de revisão de contratos bancários.

Operação “Entre Lobos” cumpre mandados em investigação sobre estelionato contra idosos. – Foto: Gaeco/NDOperação “Entre Lobos” cumpre mandados em investigação sobre estelionato contra idosos. – Foto: Gaeco/ND

Após assinarem os documentos, as vítimas eram procuradas apenas quando o processo judicial já estava perto da sentença ou em fase final.

Em muitos casos identificados pela investigação, as sentenças já haviam sido proferidas e o ganho judicial já existia. Mesmo assim, os golpistas voltavam a procurar as vítimas, sem fornecer qualquer informação sobre o processo ou os valores a que tinham direito.

Aproveitando a vulnerabilidade e o desconhecimento das vítimas, os criminosos ofereciam valores baixos, entre R$ 1,5 mil e R$ 3 mil, em troca da cessão do crédito, que muitas vezes ultrapassava os R$ 100 mil.

Créditos judiciais de idosos eram adquiridos por empresas de fachada que aplicavam fraudes milionárias. – Foto: Gaeco/NDCréditos judiciais de idosos eram adquiridos por empresas de fachada que aplicavam fraudes milionárias. – Foto: Gaeco/ND

Vítimas recebiam R$ 2 mil por créditos de mais de R$ 100 mil

A investigação mostra a desproporção nos valores pagos:

  • Uma vítima com crédito de R$ 146 mil recebeu R$ 2,5 mil (1,71% do valor);
  • Outra, com direito a R$ 117 mil, recebeu também R$ 2,5 mil (2,12% do valor);
  • Em um terceiro caso, a vítima com crédito de R$ 115 mil recebeu apenas R$ 2 mil (1,73% do valor).

Então, o lucro era dividido entre as pessoas que faziam parte da organização criminosa.

Gaeco detalhou a operação Entre Lobos, para desarticular uma organização criminosa que aplicava golpes em idoso – Foto: Angela Bueno/NDGaeco detalhou a operação Entre Lobos, para desarticular uma organização criminosa que aplicava golpes em idoso – Foto: Angela Bueno/ND

“Eles [suspeitos] foram bastante covardes contra pessoas idosas, sem recursos financeiros e sem recursos para buscar informações sobre o andamento do processo”, detalhou o promotor de Justiça e coordenador do Gaeco em São Miguel do Oeste, Edisson de Melo Menezes.

Veículos apreendidos e contas bloqueadas

Além das prisões, 25 veículos foram apreendidos e 16 contas bancárias bloqueadas, com uma estimativa de cerca de R$ 30 milhões retidos por meio da determinação da Justiça.

As 215 vítimas já identificadas somam mais de R$ 6 milhões desviados em benefício da organização criminosa. O número pode crescer, conforme o promotor.

Um dos suspeitos conseguiu enganar mil pessoas

A organização usava diferentes formas para enganar as vítimas, o que chamou a atenção da equipe de investigação. No início, eles contavam com captadores, pessoas físicas com influência na comunidade, que sabiam exatamente quem abordar.

Documentos apreendidos revelam detalhes do esquema que teria lesado idosos e pessoas em situação de vulnerabilidade. – Foto: Gaeco/NDDocumentos apreendidos revelam detalhes do esquema que teria lesado idosos e pessoas em situação de vulnerabilidade. – Foto: Gaeco/ND

Um exemplo disso é que, segundo as investigações, apenas um dos captadores, que era a pessoa responsável por abordar as vítimas, conseguiu enganar mil pessoas em apenas um ano.

Ele foi preso durante a operação e já atuou como presidente de um sindicato. Conforme a investigação, tinha acesso fácil a moradores do interior, principalmente idosos e aposentados.

Empresas envolvidas

As empresas envolvidas, segundo o Ministério Público, são a Ativa Precatórios, com sede em Pinhalzinho, no Oeste catarinense, e a BrasilMais Precatórios, com sede em Fortaleza, no Ceará.

Um dos líderes do esquema de fraudes milionárias era advogado em Chapecó. – Foto: Diego Antunes/NDTV ChapecóUm dos líderes do esquema de fraudes milionárias era advogado em Chapecó. – Foto: Diego Antunes/NDTV Chapecó

No entanto, os alvarás judiciais eram expedidos diretamente em nome do escritório de advocacia do chefe da organização, conforme apontam as apurações. “Todas as empresas foram exclusivamente criadas para a prática criminosa”, aponta Menezes.

ND Mais não conseguiu localizar a defesa das empresas citadas até a publicação das reportagens, mas o espaço segue aberto para manifestação.

Lavagem de dinheiro

Durante a investigação, foram encontradas planilhas de controle financeiro da organização criminosa, detalhando divisão de lucros, comissões, investimentos e despesas.

Promotores e policiais civis atuam em conjunto para desmantelar a organização criminosa. – Foto: Gaeco/NDPromotores e policiais civis atuam em conjunto para desmantelar a organização criminosa. – Foto: Gaeco/ND

Também foram localizados registros de procurações e substabelecimentos que revelam como o grupo manipulava a representação legal das vítimas.

A apuração aponta, ainda, indícios do crime de patrocínio infiel, ou seja, quando advogados atuam contra os interesses de seus próprios clientes. Isso teria ocorrido com integrantes da organização que se apresentavam como representantes legais das vítimas, mas operavam para beneficiar as empresas de fachada ligadas ao esquema.

Organização funcionava como uma grande empresa

O promotor detalha que a organização funcionava como uma grande empresa, onde cada pessoa tinha um papel específico. Tudo era bem coordenado.

“Havia setor financeiro, setor político, empresas de fachada, captação de vítimas, cada área com uma função clara”, explicou.

Um dos advogados presos, por exemplo, era o dono formal da empresa de fachada em Pinhalzinho. Ele também era o responsável pelo setor financeiro de toda a organização criminosa.

Operação teve apoio de agentes em cinco estados e mobilizou mais de 130 profissionais. – Foto: Gaeco/NDOperação teve apoio de agentes em cinco estados e mobilizou mais de 130 profissionais. – Foto: Gaeco/ND

“Trabalhava dentro do escritório do grupo e cuidava de toda a movimentação de dinheiro, inclusive realizando saques de grandes quantias todos os meses”, acrescentou.

Mais de 130 agentes do Gaeco de Santa Catarina participaram da operação, com apoio de promotores de Justiça, da Polícia Militar de Santa Catarina e dos núcleos do Gaeco nos outros estados.

Todos os mandados foram cumpridos com acompanhamento da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), em respeito às prerrogativas da advocacia.

Orientação às vítimas das fraudes milionárias

Quem se reconhecer como vítima do esquema deve procurar a Delegacia de Polícia Civil mais próxima para registrar um boletim de ocorrência. O caso será encaminhado ao Ministério Público.

Também é possível entrar em contato com:

  • Promotoria de Justiça de Modelo (SC) pelo WhatsApp: (49) 99200-7462
  • Ouvidoria do MPSC no e-mail: ouvidoria@mpsc.mp.br | Telefones: 127 ou (48) 3229-9306 (das 9h30 às 19h)

Fonte: ND Mais

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